afluentes

Houve um tempo em que Capela, pequena cidade da Zona da Mata de Alagoas, ficou conhecida por sua produção de enxovais bordados que atendia as moças em tempo de casamento. As encomendas que chegavam de todo o estado e iam de jogos de cama a toalhas de mesa que decoravam as casas dos recém-casados em panos de algodão e linho decorados pelos bordados de ponto cheio e crivo. Entre suas muitas artesãs, Dona Perolina se tornou mestra reconhecida na região e passou para as novas gerações o saber fazer do bordado. Hoje, a Associação de Bordadeiras e Costureiras de Capela, mais conhecida como Mimos de Dona Peró (em homenagem a matriarca), leva em diante o trabalho revisitado dos pontos de bordado com um olhar contemporâneo trazido por Luciana Leite, líder responsável pelo grupo. A técnica do bordado livre se funde aos saberes tradicionais em novas formas e cores com atenção especial aos códigos da cultura local, como o folclore e os folguedos da região. Desde 2021 trabalhamos de maneira permanente com o grupo de artesãs que ilustram os temas de nossas coleções em camisas, chemises, vestidos e os mais diversos tipos de peças que criamos na FOZ.

@mimosdepero

Técnica original francesa, o filet ou filé como chamamos no Brasil, tem sua Indicação Geográfica de procedência na região lagunar do estado de Alagoas que abrange os municípios de Maceió e Marechal Deodoro. É às margens do complexo lagunar Mundaú e Manguaba que as centenas de artesãs que se dedicam ao ofício tecem sobre uma rede de produção similar a das tarrafas de pesca (neste caso feitas em fio de algodão) os pontos da tradicional técnica que ganhou características originais quando se radicou no Brasil. O entrelace dos fios coloridos que formam figuras geométricas sobre a malha quadriculada chama atenção dos turistas que passam pela cidade, se tornando cartão postal da região e garantindo a renda de grupos, associações e cooperativas de artesãs. Desde 2021 trabalhamos ao lado de INBORDAL (Instituto do Bordado Filé de Alagoas), liderado por Petrúcia Lopes, que interpreta e ilustra nossas criações a cada coleção. Em nosso processo colaborativo, desenvolvemos uma metodologia de comunicação de design junto ao grupo onde desenhos vetorizados criados a partir de softwares de design se tornam nossa ferramenta de comunicação para a criação de blusas e vestidos que chegam a cada nova coleção.

@inbordal

No extremo litoral do sul do estado de Alagoas, uma pequena comunidade que vive principalmente do turismo, pesca e artesanato descobriu na extração e manipulação das folhas de uma palmeira nativa seu talento e sustento.
O ouricuri é uma espécie de palmeira que aparece na região da Caatinga e também no litoral. de baixa estatura e fácil manipulação, as folhas de seu miolo são extraídas de maneira cuidadosa, sem prejudicar o crescimento da planta e então sua fibra (parte interna da folha) é exposta ao sol por dias até alcançar secagem completa. Em seguida, as mulheres da região manipulam a matéria-prima em um processo de construção e costura da fibra na confecção de cestos, esteiras, bolsas, luminárias e os mais diversos itens de uso pessoal e decoração. 

Em 2021 demos início a parceria junto ao grupo Pontal Art, liderado por Leide dos Santos, que fica responsável por nossa linha de bolsas e acessórios para nossos desfiles. A construção das peças que abraça toda a associação resulta na fabricação de itens exclusivos a partir dos saberes ancestrais da região. 

@pontal_art

Produção reconhecida em todo o território nacional, tudo que vem da Ilha do Ferro (AL) chama a atenção de quem vê. O ofício iniciado por Fernando Rodrigues, morador local que confeccionou o primeiro banco em madeira rústica da região, logo inspirou seus vizinhos que passaram a se dedicar ao ofício do entalhe na medida em que o povoado ganhou notoriedade por sua originalidade e criatividade. É também lá onde se faz o berço do bordado boa-noite, outra técnica têxtil de grande relevância no cenário brasileiro.
O Ateliê Boca do Vento, antigo espaço onde Fernando trabalhava, hoje é ocupado por seus descendentes, que aprenderam assistindo o patriarca manipular a madeira e levam em diante a tradição que se criou na região. Além do ateliê, muitos outros grupos e artesãos individuais se dedicam ao trabalho, incorporando códigos da cultura local naquilo que representam através do entalhe. 

Em algumas oportunidades tivemos o prazer de colaborar com estes artistas, seja no mobiliário de nossa loja, na cenografia de nossos desfiles ou em aviamentos e acessórios específicos de determinadas coleções, sendo este um lugar onde permanecemos revisitando a cada oportunidade. 

@atelie_boca_do_vento

Técnicas de abrangência contemporânea, entendemos o fuxico e o patchwork (costura de retalhos) como as mais antigas formas de upcycling que o artesanato pode produzir. O uso de retalhos, sejam eles de descarte ou provenientes de matéria-prima recente, configuram os saberes de manipulação têxtil que fazem parte da memória de muitos brasileiros. É a partir deste reaproveitamento e da construção de novas padronagens que construímos novas possibilidades se superfície ao lado e Art’cetera Ateliê, liderado por Sandra Cartaxo. Desde 2022 colaboramos com a iniciativa que além de investir criativamente a cada coleção em nossas criações, mais recentemente, também passou a ser responsável pela logística reversa de nossos resíduos têxteis, recebendo todos os retalhos de cortes de nossa confecção e ficando responsável por dar nova vida ao que seria material de descarte. 

@artceteraatelie

Discípulo e assistente do renomado pintor e escultor modernista Francisco Brennand, Eduardo Faustino é pernambucano de nascimento mas se radicou como artesão no litoral norte de Alagoas. Seu trabalho tem fortes influências do mestre que o acompanhou por anos em sua vida profissional, mas traz também algo de original e popular no que cria e produz em técnicas diversas. Pintor e escultor assim como Brennand, Faustino já colaborou conosco desenvolvendo pinturas que se tornaram estampas e cerâmicas que decoram nossas lojas, acessórios e produtos de casa. Sua influência modernista e popular aparece na representação tanto de formas abstratas como em pinturas ilustrativas que figuram folguedos, danças e comemorações dos interiores do Nordeste. 

@eduardofaustinoartesao